Pindamonhangaba
O Vale do Paraíba, onde se situa a cidade de Pindamonhangaba, foi ocupado, inicialmente, por paulistanos, em função das descobertas auríferas em Minas Gerais, tendo desempenhado, no século XVII, o papel de centro abastecedor da zona de mineração. Sua importância é, assim, de caminho de passagem para Minas, sendo cruzado ainda por ligações transversais, demandando o litoral. Após um período de decadência devido à concorrência com o Rio de Janeiro, no século XVIII, percebe-se, a partir do século XIX, o surgimento de um processo de consolidação da economia regional através da cafeicultura.
É nesse período que se inicia um significativo processo de urbanização. Após a passagem do café, o Vale do Paraíba teve estancado o seu crescimento, que só foi retomado com a construção da Estrada de Ferro Central do Brasil e da rodovia Rio- São Paulo, eixos que puseram em prática a função do Vale como via de ligação entre os dois maiores centros urbanos do Pais. Mais. recentemente, a construção da rodovia Presidente Dutra viria firmar sua condição de localização privilegiada para diversos setores industriais.
A área urbana de Pindamonhangaba está situada entre o Rio Paraíba e a rodovia Presidente Dutra, entre Tremembé e Roseira. O sitio é cortado por uma série de linhas. na direção sudoeste-norte- deste, mais ou menos paralelas entre si e paralelas à direção dominante do Rio Paraíba nesse trecho. São elas as ligações rodoviárias da Via Dutra, da estrada velha Rio – São Paulo, da Rede Ferroviária Federal, além de uma linha de transmissão de energia elétrica. Conforma-se assim um retângulo que tem a sudeste a Via Dutra, a noroeste o Rio Paraíba, a nordeste o córrego que separa Pindamonhangaba de Roseira e, a sudoeste, o córrego que separa Pindamonhangaba de Tremembé.
A maior e mais antiga parte da cidade, a velha Pindamonhangaba, localiza-se sobre uma elevação situada a cavaleiro de uma curva mais acentuada do Rio Paraíba. No ponto mais alto dessa elevação, encontram-se a igreja matriz e algumas das construções mais antigas e maiores que foram as casas -verdadeiros palacetes -dos fazendeiros de café. Uma dessas construções é hoje utilizada pela Prefeitura Municipal, e outra abriga um museu municipal na esquina da Rua Mal. Deodoro com a Ladeira Barão de Pindamonhangaba. A parte mais antiga da cidade, situada entre a linha da ferrovia e o Rio Paraíba, tem comolimites o ribeirão do Cortume, a leste, e o Rio Tapanhon, a oeste.
Ao longo da margem direita do Rio Paraíba, estendem-se ricas várzeas com aproveitamento rural. Próximo à divisa municipal com .Roseira, cresce o distrito de Moreira Cezar, em cuja região se instalou recentemente nova etapa de desenvolvimento industrial do municípios, no setor metalúrgico. Próximo a Moreira Cezar, foram há pouco construídos grandes conjuntos de habitações para trabalhadores.
A plataforma onde se construiu a parte mais antiga dá cidade encontra-se numa cota de aproximadamente 555 metros, descendo, a leste, a norte e a oeste, até cotas de, aproximadamente, 535 metros, enquanto que, para sul, sobe-se suavemente para cotas de 560 e até 570 metros.
A população total de Pindamonhangaba, em 1980, era de 69.598 habitantes, sendo 56.903 no distrito-sede e 12.695 em Moreira Cezar. 90% dessa população era urbana. As maiores densidades habitacionais de ocupação do solo dão-se junto ao centro da cidade, imediatamente ao norte da via férrea, onde existem mais de 18 habitações por hectare. No restante da cidade, as densidades são em geral baixas, num entorno de 10 habitações por hectare, sendo a verticalização mínima. Apesar disso, o distrito-sede apresenta poucos vazios urbanos, estando quase toda a área parcelada e ocupada. Além dos limites naturais acima descritos, a linha de alta- tensão e uma fazenda de propriedade do Estado, situadas a sudeste, conformam limites poderosos, responsáveis pela expansão da mancha urbana na direção sudoeste, única área aberta e com cotas pouco mais altas do que as da cidade. Toda a atual mancha urbana do distrito-sede tem pouco mais do que dois quilômetros de largura por pouco mais do que três de comprimento, este no sentido norte e sul.
O distrito-sede tem poucas e pequenas indústrias. A maior parte do comércio situa-se no centro da cidade, sempre ao norte da ferrovia. As poucas indústrias encontram-se na extremidade sul da cidade. O quartel do Exército localiza-se na extremidade norte, junto ao rio, próximo de um grande parque. A maior parte dos equipamentos sociais urbanos encontra-se, também, junto ao centro, excetuados um mercado e um centro recreativo e esportivo de construção recente, além de escolas e de um posto de saúde.
A segregação social não é ainda nítida no distrito sede, embora se note a tendência para o surgimento de bairros novos para as classes de renda mais elevada ao sul da ferrovia. De qualquer for- ma, a segregação se dará, ao que tudo indica, pela transferência dos trabalhadores para os grandes conjuntos construídos próximos às indústrias sediadas em Moreira Cezar .
Sendo a rede urbana do Vale do Paraíba bastante densa e, conseqüentemente, os núcleos urbanos próximos, existe um inter- câmbio bastante grande entre eles. Com relação a Pindamonhangaba, seu maior intercâmbio se faz com Taubaté, sendo grande o número de estudantes e de trabalhadores que se dirige para esta cidade todos os dias. Por isso, a estrutura urbana pindamonhangabaense é bastante influenciada pelas vias de ligação Tremembé, com Taubaté e com a Via Dutra, além de ser profundamente mar- cada pelas linhas da Rede Ferroviária Federal e da Estrada de Ferro de Campos de Jordão. A partir da Via Dutra, o acesso a Pindamonhangaba se faz numa reta, pela Av. N. S. do Bom Sucesso, cuja diretriz corta o tecido urbano de norte a sul. A nordeste, o acesso às indústrias é feito pela estrada velha Rio -São Paulo, através do bairro de Curuputuba, até Moreira Cezar. A sudoeste, através da Rua Dr. Fontes Ir., tem-se o acesso a Taubaté e a Tremembé. Às indústrias situadas a sudeste e ao bairro da Cidade Nova, o acesso é feito através da Av. Campos do Jordão.
Dois aspectos chamam a atenção na dinâmica atual dessa estrutura. Em primeiro lugar, é notório que o centro do distrito antigo terá dificuldades para se adequar às necessidades de cresci- mento e do tráfego de automóveis, quer por estar irremediavelmente isolado e cortado pelas linhas férreas, quer por sua própria estrutura construída em outra época. Em segundo lugar, a expansão industrial a que está sujeita a cidade implicará acentuado espraiamento de sua mancha urbana, notadamente a partir de Moreira Cezar na direção do distrito-sede.
A inevitabilidade da expansão industrial sediada em Pindamonhangaba, processo aliás já desencadeado, deve-se às peculiaridades de sua localização: centro do Vale, próxima aos centros industriais de Taubaté e de São José dos Campos, entre as duas metrópoles do País e marginal à rodovia e à ferrovia que as liga. Acrescente-se, ainda, a possibilidade de acesso fácil ao porto de São Sebastião. A expectativa de que essa expansão industrial se dê em áreas mais afastadas do centro antigo e mais próximas a Moreira Cezar decorre do fato de que neste distrito os terrenos são mais planos e os preços da terra mais baixos. A conseqüência desse processo é o reforço da propensão à expansão da mancha urbana na direção leste-oeste, que tenderá, no futuro, a promover e a reforçar a conurbação da cidade com Moreira Cezar, Roseira, Tremembé e Taubaté, mas que, no momento, apenas propicia a criação de um tecido urbano disperso e truncado, com marcos referenciais pobres e espalhados, ainda que numa paisagem de características marcantes.
A transposição da estrada de ferro, no distrito-sede, faz-se em cinco pontos. Dois por viadutos: na Avenida Jorge Tibiriçá e na Rua dos Sagrados Corações. Três em nível: Rua Campos Sales, Ruas Gregório Costa/Frederico Machado e Rua Dr. Eloy Chaves/ Avenida Voluntário Vitoriano Borges. Há alguns anos, a Rede Ferro- viária pretendeu fechar todas as passagens em nível, tendo sido repelida em suas intenções pela Prefeitura e pela população. Com efeito, seria difícil imaginar que a estrutura urbana pudesse funcionar com apenas dois pontos de contato, quando é bastante evidente que um dos seus grandes problemas é ter apenas cinco pontos. O cenário do espaço natural onde se localiza o distrito-sede continua a ser dominado, ao longe, pela Serra da Mantiqueira e, proximamente, pelo Rio Paraíba e suas várzeas. O sítio urbano, em si, é desenhado pela plataforma onde foi construída a cidade, que cai de forma pronunciada para a várzea do Rio Paraíba.
Como a verticalização é ainda pequena, o contorno e o perfil da aglomeração revelam nitidamente o desenho do espaço natural onde se ergueu a cidade. Algumas construções de taipa estão ainda de pé, e em boas condições. As telhas de barro e a madeira são utilizadas largamente nas coberturas, nas estruturas, nos forros e nas esquadrias. O granito, extraído na Serra, recobre ainda algumas calçadas e fornece o material dos paralelepípedos e dos meios-fios.
Referência: Serra, G. , O Espaço Natural e a Forma Urbana; Ed. Nobel, 1987.